IMHO: Metrô de Higienópolis e a gente diferenciada
Muito bem escrito o post "Metrô de higienopolis e a revolução francesa paulistana".
É sempre muito prazeroso ler um texto tão bem escrito. Os pontos apresentado são muito bem explicados de maneira didática.
E, em determinado ponto, tem o meu consentimento: todo projeto de infra-estrutura que ocorra em qualquer bairro deve considerar a opinião dos seus moradores - que serão diretamente afetados. É pertinente, democrático e justo.
É uma pena que, infelizmente, o post acabe minimizando a questão dando o foco para a discussão de "Classe alta elitizada X Classe média de protestantes de sofá mimimi".
Pois, observando o contexto como um todo, podemos perceber que o problema principal não é o bafafá gerado, nem a tal "briga de classes", mas sim um pouco mais subjetivo pois o cerne da questão é outro: o bem maior acima dos interesses de determinado grupo.
E por "bem maior" não quero dizer o meu bem. Nem o seu. Mas o bem mais adequado para todos nós.
Tentarei explicar melhor.
O movimento em favor da "gente diferenciada"
No inicio do movimento contrário a instalação da estação no bairro (que culminou em um abaixo-assinado com 3.500 assinaturas), uma moradora do bairro, psicóloga, explicou em uma entrevista à Folha de São Paulo:
“Não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…”
Indignados com essa e outras declarações dos moradores do bairro Higienópolis, foi organizado através das redes sociais um protesto bem humorado - uma pérola que a internet nos propicia.
O protesto se propõe a tentar fazer pressão para que a prefeitura volte atrás?
Ou se propõe a ser uma simples balbúrdia de fim de tarde?
Ou se propõe a fazer justiça com as próprias mãos e decapitar a elite paulistana em praça pública?
Entendo que não, não e
Apesar de não ser o foco, acho o protesto contundente, pois considera que o 5o artigo da constituição foi ignorado, nas citadas declarações dos moradores. Te poupo a googlada:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (..)
Ou seja, é uma forma de lembrar que na nossa nação ninguém é melhor, nem mais importante, nem mais bonito, nem tem voto (ou assinatura) mais importante do que ninguém.
Por mais que pensem o contrário, como o espetacular Marco Graco:
Esse movimento foi carinhosamente classificado na blogosfera como uma "luta de classes".
Saia do muro!
É normal que em uma sociedade democrática nós tomemos partido.
Eu voto no PT ou no PSDB. Sou a favor ou contra o desarmamento. Sou a favor ou contra a união homoafetiva. Eu prefiro o Garfield ao Frajola. E assim por diante.
É um ótimo exercício de cidadania e democracia. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, mas todos devem respeitar uns aos outros.
Mas em algumas questões - só algumas? -, as coisas são um pouco mais complicadas do que parecem. O famoso buraco q é mais em baixo, sabe?
É muito fácil fazer coro com uma polarização pré-determinada A x B e gritar, espernear, ofender - mesmo que seja com palavras rebuscadas.
A mídia corporativa até dá um empurrãozinho! Afinal, eles adoram alardes. E para ter ibope, nada melhor do que fazer barulho. Eles querem ver o circo pegar fogo e vender jornal pro palhaço que sobreviver ao incêndio. Como tochas, basta tomar partido polarizando.
"Tomar partido" que normalmente se resume em uma luta entre "os fracos e os oprimidos X os opressores desumanos desmiolados reptilianos vampiros da alfa-de-centauro".
É bem filme B, mesmo.
O problema, é que no afã de levantar uma bandeira em uma polarização pré-estabelecida, podemos correr o risco de passar despercebidos por certos detalhes relevantes à questão.
Tah, mas e a estação de Metrô?
A simplificação da questão em uma polarização de A x B leva os holofotes para a discussão pela discussão, pro "Meu time x o Seu time" além de omitir certos aspectos técnicos, que seriam essenciais para o melhor entendimento da questão.
Não sou político, engenheiro, arquiteto ou morador da Higienópolis. Também não sou especialista em metrô, nem em trânsito em grandes metrópoles, muito menos em obras de infra-estrutura. A verdade é que não sei nem trocar um chuveiro.
Mas tive a oportunidade de trabalhar em uma construtora por um curto período de tempo e, se não me engano, para uma obra de grande porte era feito um projeto/estudo (desconheço o termo correto, se houver) realizado por uma equipe plural composta por especialistas em tudo o que for relevante para o contexto da obra.
Em uma obra pública, não seria diferente. Talvez alguns aspectos sofram mudanças, pois o objetivo não é o interesse de uma empresa privada em levantar um shopping para obter lucro, mas sim, melhorar as condições de ir e vir para todos nós.
Ou seja, nesse estudo/projeto requisitado por nossos representantes, na figura do governo, levaria em consideração em primeiro lugar o bem maior (ou deveria, pelo menos).
Em seguida consideraria uma série de parâmetros como, por exemplo, o custo, o benefício, o prazo, a viabilidade, a dor de cabeça, as demais estações da região, a quantidade e opinião dos moradores da região que seriam afetados, a quantidade e opinião
Não precisa ser um gerente de projetos para concluir que todos esses parâmetros teriam um peso adequado de acordo com a sua importância/relevância no contexto - já sendo chato em lembrar que o foco é sempre o bem maior.
O resultado do estudo, que poderia levar até meses para ser concluído (de novo: realizado por especialistas e estudiosos
É claro que esse estudo poderia ser acompanhado, visto e revisto (e até refeito). Desde que - sim, adivinhou? - se mantenha o foco no bem maior e não fosse simplesmente influenciado por pressão de determinado grupo
Detalhe: o metrô nega que tenha sido influenciado pelo abaixo-assinado dos moradores do bairro.
Óh, e agora, quem poderá me defender?
Fazendo um exercício de interpretação, podemos tentar nos imaginar como um morador da área indicada pela conclusão do estudo - seja ela qual for. (Ui, sou chique! =D)
Poderíamos nos sentir incomodados? Sim!
Seríamos obrigados a gostar? Não!
Seríamos obrigados a concordar? Não!
Mesmo assim, como demonstração de respeito ao próximo, à democracia, e (pela última vez, juro!) considerando o bem maior - que também deveria ser o nosso interesse - seria muito absurdo aceitarmos?
Repare que foi feito todo um estudo detalhado a respeito do assunto. Não se trata de um estagiário traçando linhas coloridas em um mapa da cidade a esmo com um marca textos cor de rosa.
Tendo isso em mente, seria tão absurdo aceitar a instalação de algo que beneficiaria tanta gente, simplesmente por que mudaria a "tradição do bairro" que passaria a ser frequentado por uma "gente diferenciada" e que por isso poderia resultar em "ocorrências indesejáveis"?
Conclusão
Em resumo, acho que destacam-se basicamente 3 pontos:
- O péssimo serviço realizado pela mídia corporativa omitindo fatos relevantes à questão, c Nom o único propósito de gerar polêmicas a para ganhar atenção;
- Os - excelentes - movimentos iniciados nas redes sociais com idéias espontâneas e criativas afim de conscientizar a sociedade; (assunto para outro post) e
- A chamada à reflexão sobre a nossa posição enquanto elemento de uma sociedade ou o Nós > Eu.
Bom, é mais ou menos isso.
E mais um milhão de coisas..
Então, o que achas?
PS: Espero não ter escrito muitas abobrinhas em meu primeiro texto não técnico. Por favor, me ajude a melhorar comentando, criticando, dando dicas, sugerindo, xingando e etc. ^^
ATUALIZAÇÃO: Hoje (12/05 às 09:02) foi publicado um artigo que traz à luz alguns detalhes interessantes. Não poderia ter sido assim desde o inicio? #fikdik
Marcadores: democracia, filosodia de buteco, IMHO
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