IMHO: Metrô de Higienópolis e a gente diferenciada
É sempre muito prazeroso ler um texto tão bem escrito. Os pontos apresentado são muito bem explicados de maneira didática.
E, em determinado ponto, tem o meu consentimento: todo projeto de infra-estrutura que ocorra em qualquer bairro deve considerar a opinião dos seus moradores - que serão diretamente afetados. É pertinente, democrático e justo.
É uma pena que, infelizmente, o post acabe minimizando a questão dando o foco para a discussão de "Classe alta elitizada X Classe média de protestantes de sofá mimimi".
Pois, observando o contexto como um todo, podemos perceber que o problema principal não é o bafafá gerado, nem a tal "briga de classes", mas sim um pouco mais subjetivo pois o cerne da questão é outro: o bem maior acima dos interesses de determinado grupo.
E por "bem maior" não quero dizer o meu bem. Nem o seu. Mas o bem mais adequado para todos nós.
Tentarei explicar melhor.
O movimento em favor da "gente diferenciada"
“Não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…”
O protesto se propõe a tentar fazer pressão para que a prefeitura volte atrás?
Ou se propõe a ser uma simples balbúrdia de fim de tarde?
Ou se propõe a fazer justiça com as próprias mãos e decapitar a elite paulistana em praça pública?
Entendo que não, não e
Apesar de não ser o foco, acho o protesto contundente, pois considera que o 5o artigo da constituição foi ignorado, nas citadas declarações dos moradores. Te poupo a googlada:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (..)
Esse movimento foi carinhosamente classificado na blogosfera como uma "luta de classes".
Saia do muro!
A simplificação da questão em uma polarização de A x B leva os holofotes para a discussão pela discussão, pro "Meu time x o Seu time" além de omitir certos aspectos técnicos, que seriam essenciais para o melhor entendimento da questão.
Mas tive a oportunidade de trabalhar em uma construtora por um curto período de tempo e, se não me engano, para uma obra de grande porte era feito um projeto/estudo (desconheço o termo correto, se houver) realizado por uma equipe plural composta por especialistas em tudo o que for relevante para o contexto da obra.
Em uma obra pública, não seria diferente. Talvez alguns aspectos sofram mudanças, pois o objetivo não é o interesse de uma empresa privada em levantar um shopping para obter lucro, mas sim, melhorar as condições de ir e vir para todos nós.
Ou seja, nesse estudo/projeto requisitado por nossos representantes, na figura do governo, levaria em consideração em primeiro lugar o bem maior (ou deveria, pelo menos).
Em seguida consideraria uma série de parâmetros como, por exemplo, o custo, o benefício, o prazo, a viabilidade, a dor de cabeça, as demais estações da região, a quantidade e opinião dos moradores da região que seriam afetados, a quantidade e opinião
Não precisa ser um gerente de projetos para concluir que todos esses parâmetros teriam um peso adequado de acordo com a sua importância/relevância no contexto - já sendo chato em lembrar que o foco é sempre o bem maior.
O resultado do estudo, que poderia levar até meses para ser concluído (de novo: realizado por especialistas e estudiosos
É claro que esse estudo poderia ser acompanhado, visto e revisto (e até refeito). Desde que - sim, adivinhou? - se mantenha o foco no bem maior e não fosse simplesmente influenciado por pressão de determinado grupo
Detalhe: o metrô nega que tenha sido influenciado pelo abaixo-assinado dos moradores do bairro.
Óh, e agora, quem poderá me defender?
Fazendo um exercício de interpretação, podemos tentar nos imaginar como um morador da área indicada pela conclusão do estudo - seja ela qual for. (Ui, sou chique! =D)
Poderíamos nos sentir incomodados? Sim!
Seríamos obrigados a gostar? Não!
Seríamos obrigados a concordar? Não!
Mesmo assim, como demonstração de respeito ao próximo, à democracia, e (pela última vez, juro!) considerando o bem maior - que também deveria ser o nosso interesse - seria muito absurdo aceitarmos?
Repare que foi feito todo um estudo detalhado a respeito do assunto. Não se trata de um estagiário traçando linhas coloridas em um mapa da cidade a esmo com um marca textos cor de rosa.
Tendo isso em mente, seria tão absurdo aceitar a instalação de algo que beneficiaria tanta gente, simplesmente por que mudaria a "tradição do bairro" que passaria a ser frequentado por uma "gente diferenciada" e que por isso poderia resultar em "ocorrências indesejáveis"?
Conclusão
Em resumo, acho que destacam-se basicamente 3 pontos:
- O péssimo serviço realizado pela mídia corporativa omitindo fatos relevantes à questão, c Nom o único propósito de gerar polêmicas a para ganhar atenção;
- Os - excelentes - movimentos iniciados nas redes sociais com idéias espontâneas e criativas afim de conscientizar a sociedade; (assunto para outro post) e
- A chamada à reflexão sobre a nossa posição enquanto elemento de uma sociedade ou o Nós > Eu.
Bom, é mais ou menos isso.
E mais um milhão de coisas..
Então, o que achas?
PS: Espero não ter escrito muitas abobrinhas em meu primeiro texto não técnico. Por favor, me ajude a melhorar comentando, criticando, dando dicas, sugerindo, xingando e etc. ^^
ATUALIZAÇÃO: Hoje (12/05 às 09:02) foi publicado um artigo que traz à luz alguns detalhes interessantes. Não poderia ter sido assim desde o inicio? #fikdik
Marcadores: democracia, filosodia de buteco, IMHO